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Salve o novo prefeito
Dentro de poucas horas saberemos quem será o prefeito de Salvador nos
próximos quatro ou, provavelmente, oito anos. Não será difícil ser melhor que o
prefeito retirante. Mas não basta isso, há uma grande expectativa sobre a nova
administração. A sociedade foi mobilizada nos últimos quatro anos pela discussão
do estado calamitoso a que chegou a cidade e sobre tal cobrança o novo prefeito
tem duas alternativas: capitalizar essa massa critica ou ficar na defensiva, que
só o desgastará.
O novo prefeito contará com uma Câmara de Vereadores renovada em 50%, com
evidente melhoria da representatividade e qualificação de seus membros. Isso é
importante, independente da composição partidária, se ele quiser desprivatizar a
prefeitura e enfrentar os três carteis que a dominam: o imobiliário, o do
transporte urbano e o do lixo. Diante da situação de espoliação consentida da
mesma, o futuro prefeito deverá usar muita imaginação para honrar o varejo
eleitoral e realizar as reformas estruturantes que a cidade urgentemente
precisa.
Para tirar Salvador do buraco, a ajuda do Estado e da União é fundamental, e eu
não tenho duvida que ela virá já com a Copa, desde que o prefeito tenha projetos
consistentes e não simulacros carimbados de construtoras/incorporadoras.
Salvador não pode ser mais gestada pelo achismo e pelos lobbies econômicos.
Precisamos criar um sistema efetivo de planejamento e monitoramento urbano,
participativo e qualificado, começando pela revisão do PDDU e LUOS. Neste
sentido é fundamental a ampliação da outorga onerosa como meio de permitir a
infraestruturação da cidade e a revisão dos coeficientes de aproveitamento do
solo, em função da capacidade das vias, da ventilação e da exposição solar. Não
é possível que no terceiro maior mercado imobiliário do País a prefeitura local
não tenha recursos senão para pagar a folha de pagamento.
Recursos existem com as revisões apontadas, por ser Salvador a capital e vitrine
do Estado e a RMS possuir metade de seu PIB. Nesta sigla reside a chave para a
recuperação econômica e física de Salvador. A cidade precisa ser
descongestionada e ter seus custos compartidos com toda a região para a qual
presta sozinha serviços habitacionais, de educação, saúde, abastecimento e
cultura. Nela reside também a possibilidade do aumento da permanência dos
turistas, com o desenvolvimento de atividades náuticas na extensa costa da Baia
de Todos os Santos. No seu extenso território é possível uma expansão urbana
vinculada ao desenvolvimento de atividades produtivas, sem destruição de áreas
verdes e constipação do transito.
Diante do abandono da RMS pelo Estado, cabe ao Prefeito da capital liderar uma
campanha pela sua institucionalização e estruturação ou criação de um consórcio
municipal para dividir custos e serviços. No que se refere ao transito, enquanto
o metrô não vem, ele pode ser rapidamente melhorado com o monitoramento dos
corredores exclusivos de ônibus e bicicletas, inclusive elétricas, proibição de
estacionamento ao longo de rotas alternativas de carros privados e criação de
estacionamentos periféricos. Saneamento básico, micro e macro drenagem, cuja
falta provoca enfermidades, corrimentos de encostas e engarrafamentos, têm que
ser encarados como problemas metropolitanos. Educação em tempo integral e saúde
preventiva idem.
Por fim, é preciso restaurar a autoestima do soteropolitano com a recuperação
dos espaços públicos: segurança, passeios e ruas recuperadas, praças, e
mobiliário urbano. Restaurar uma urbanidade que estamos perdendo. Neste sentido
é urgente resgatar os projetos engavetados da Prefeitura e concursar outros
criando um banco de projetos para captação de recursos do Governo Federal.
A disputa acirrada dessa eleição indica que há mais dissenso que consenso sobre
a figura do futuro prefeito e cabe a ele provar que veio mais para somar que
para dividir, neste momento de crise. Da oposição espera-se uma atitude critica
e vigilante, mas não de obstrução estéril e estúpida.
SSA: A Tarde, 28/10/12